sábado, julho 08, 2006

Detalhes do acidente com o Beriev Be 200


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Beriev Be 200 durante uma largada de água

Neste momento, os detalhes do acidente com o Be-200 começam a tornar-se conhecidos e pode-se ter uma noção mais exacta do sucedido, pelo que se justifica actualizar a notícia que ontem demos.

O acidente deveu-se a uma colisão com eucaliptos após um exercício de reabastecimento na Barragem da Aguieira, um dos escassos pontos identificados como possíveis locais de reabastecimento para o Beriev na altura em que este tentava ganhar altitude.

Com o B 200 ainda com bastante combustível e reabastecido de água, não foi possível aos pilotos ganhar a altitude necessária, pelo que ainda houve um embate na copa das árvores, tendo ramos que entraram num dos motores causado um sobreaquecimento que obrigou a tripulação a desligá-lo.

Tornou-se, portanto, necessário largar a água e o combustível não essencial, de modo a recuperar a estabilidade e aterrar com o máximo de segurança possível nestas circunstâncias, tendo resultado focos de incêndio na zona do concelho de Santa Comba Dão onde o combustível caiu.

Mesmo com o inquérito a decorrer, podem-se, no entanto, começar a tirar algumas conclusões, que vêm na linha das dúvidas que exprimimos por diversas vezes relativamente ao perfil de voo de uma aeronave concebida para operar em regiões com uma orografia completamente diferente da portuguesa e que necessita de corredores de dimensões muito superiores às dos aviões habitualmente utilizados entre nós, como acontece com os Canadair.

Quando o Be200 foi concebido, como aeronave rápida de grande alcance e com elevada capacidade de transporte de água, o cenário em que se previa operar incluia zonas de grandes lagos, rios e albufeiras, zonas pouco montanhosas e grandes distâncias a percorrer.

A Beriev concebeu e produziu um avião que respondeu da melhor forma ao caderno de encargos das autoridades russas de modo a poder ser colocado ao dispor do Ministério para as Situações de Emergência e operar no extenso terrritório russo.

Também a possível utilização de água do mar, que abordamos há algum tempo, voltou a estar na ordem do dia, com vozes que contestam a sua utilização com base no impacto ambiental negativo que esta pode causar, mas também devido à limitação do próprio aparelho em operar com ondas superiores a 1.2 metros.

Se esta última limitação era de menor importância num mar tipicamente tranquilo como o Mediterrâneo, onde o Be 200 foi testado, no Atlântico é normal haver ondulação superior, impossibilitando esta opção com frequência e remetendo este modelo para o escasso número de pontos de abastecimento inventariados.

Sem por em causa a inegável qualidade do Be-200, a sua adaptação às condições que se prevê enfrentar em Portugal podem torná-lo inadequado, sobretudo se os pontos de reabastecimento forem revistos e reduzidos em consequência deste acidente, diminuindo a sua capacidade operacional e aumentando os custos de intervenção.

Torna-se, portanto, cada vez mais difícil de equacionar uma presença duradoura do Beriev entre nós, esperando-se que uma eventual vantagem financeira, resultante da negociação da antiga dívida soviética, não se traduza na aquisição de um aparelho que pode não ser o mais adequado para operar entre nós.

4 comentários:

Anónimo disse...

Nos meios "aeronauticos" desde o inicio que se comentava que o avião não era adequado para nosso uso em combate a incendios. Necessita de albufeiras ou lagos muito extensos. Quando o nível das albufeiras desce demasiado no Verão o avião não pode operar na maior parte dos locais. Será que o negócio é mais importante que a operacionalidade???????????????

Nuno Cabeçadas disse...

Infelizmente parece-me que a prioridade foi recuperar o valor da dívida russa e não a compatibilidade da aeronave com a orografia nacional.

Assim, as questões operacionais ficam subordinadas às financeiras, do que podem resultar uma baixa eficência, alto custo e perigo para tripulantes e para quem está em terra.

Anónimo disse...

Só uma correcção.
O incêndio provocado pelo combustível do avião russo iniciou-se na localidade da Aguieira, a escassas centenas de metros a sul do paredão da barragem, já no concelho de Penacova.
De resto concordo plenamente que esta aeronave não serve para combater incêndios com montanhas e vales profundos.

Anónimo disse...

Então se os ramos dos eucaliptos entraram nos motores que estão bem acima das asas do avião, que aconteceu ao resto do avião???

Mistério....